O Estado do Sistema* Nacional de Saúde em 2025: Um Testemunho Doloroso
Portugal orgulha-se de ter um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, em teoria, assegura cuidados médicos universais e acessíveis a todos os cidadãos. Contudo, a realidade vivida em 2025 por muitos portugueses demonstra que estamos longe de garantir um sistema eficiente, humano e digno.
Esta é a história de uma senhora de 84 anos que evidencia o caos que se vive no SNS. A senhora, que reside numa cidade que não é no interior, sofreu uma queda da cama e suspeitava-se de uma fratura. O 112 foi prontamente chamado, e a equipa de emergência confirmou no local que havia uma fratura. A decisão sobre o transporte foi complexa: em vez de ser levada para o hospital mais próximo, foi transferida para um hospital a 90 km de distância, aparentemente por ser o único com disponibilidade para uma cirurgia.
Ao chegar a esse hospital, confirmaram o diagnóstico, mas a situação agravou-se: foi informada de que não poderia ser operada naquele dia. A solução? Voltar para casa e regressar no dia seguinte. Um cenário impensável e desumano, considerando a idade e a condição física da doente. Após os familiares insistirem que a residência era a 90 km, o hospital contactou a unidade da cidade de origem, que aceitou receber a senhora.
Parecia um alívio. Contudo, ao chegar ao hospital da sua cidade, a senhora recebeu uma pulseira verde – que indica pouca gravidade – apesar de já ter exames e diagnóstico confirmados de uma fratura. Como se não bastasse, foi informada de que passaria a noite numa maca nas urgências, pois não havia vaga na ortopedia, e que a operação não seria realizada no dia seguinte. Havia 38 pessoas à sua frente.
Isto é aceitável?
A situação levanta questões urgentes sobre a gestão do SNS e o respeito pelos cidadãos mais vulneráveis. Uma idosa de 84 anos com uma fratura deve passar por este calvário? Um sistema que repete exames já realizados, que não prioriza casos graves e que obriga uma pessoa em sofrimento a passar noites desconfortáveis em macas é um sistema que falha na sua missão.
O que vemos aqui não é apenas a incapacidade logística de um sistema de saúde. É a negação de dignidade e de compaixão. É, no limite, um cenário que beira o abandono, ou como muitos poderão descrever: um suicídio assistido social, onde os mais frágeis são deixados à mercê da ineficiência e do desespero.
E agora?
Portugal enfrenta uma escolha: ou reformamos o SNS com urgência, investindo nos profissionais de saúde, na infraestrutura e na gestão eficiente, ou continuaremos a assistir a casos como este, que são, na verdade, um reflexo de um sistema em colapso. É hora de exigir mais, de nos unirmos para que situações como a desta senhora de 84 anos sejam exceções e não a regra. Afinal, o SNS deveria ser um pilar de segurança, não um palco de sofrimento.
Estamos dispostos a lutar pelo direito à saúde digna? O futuro do SNS depende da resposta a esta pergunta.
* o correcto é serviço mas o que não funciona é o Sistema - É um conjunto de componentes (profissionais, infraestruturas, gestão, serviço) que funcionam juntos para atingir um determinado objetivo.
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Atualização sobre a situação da senhora hospitalizada: mais uma noite de incerteza no SNS
Após o relato inicial, temos agora uma atualização sobre a senhora de 84 anos que sofreu uma fratura e passou por um verdadeiro calvário no Serviço Nacional de Saúde.
Depois de passar a noite numa maca nos corredores do hospital, a família foi visitá-la por volta da hora do almoço do dia seguinte. Nesse momento, encontraram-na com duas pulseiras: a verde, atribuída inicialmente, e uma vermelha, sinalizando maior gravidade. Ao questionar os profissionais de saúde, foram informados de que a cirurgia estava finalmente agendada para o dia seguinte.
Mais tarde, ao fim do dia, a família recebeu um SMS com a notícia de que a senhora tinha sido transferida para uma cama na ortopedia. Um pequeno alívio após horas de incerteza e desconforto.
Enquanto aguardamos pela operação, continuaremos atentos, esperando que esta história tenha um desfecho digno e que sirva de alerta para uma mudança necessária no sistema.